Cayan Luigi

Bandeiras do Emirados Árabes, Estados Unidos e Israel em uma aeronave da EL AL que partiu de Tel Aviv para Abu Dhabi pela primeira vez na história. Acima a palavra “Paz” escrita em árabe, inglês e hebraico. (Foto: KARIM SAHIB/AFP)

O ano de 2020 começou com um clima tenso no Oriente Médio como de costume. Após 3 dias das queimas de fogos em copacabana, o general e número dois do regime xiita iraniano Qassim Suleimani foi morto por um drone norte-americano em Bagdá, Iraque. Vale lembrar que desde o ano de 2018 a tensão entre Irã e Estados Unidos vêm aumentando bastante, visto que o presidente Donald Trump saiu do acordo nuclear assinado em 2015 entre Irã, China, Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e França cujo objetivo era limitar o enriquecimento de urânio do país persa retirando as sanções que até então eram impostas ao governo. Em resposta a saída dos Estados Unidos e a volta das sanções, o regime iraniano vêm criando uma série de atritos no Estreito de Ormuz com inúmeros ataques a navios petroleiros que passam na região, além, claro, de elevarem o enriquecimento de urânio, assim criando um conflito entre ambas as nações e grupos políticos.

Apesar de iniciar-se em tensão, o primeiro semestre foi relativamente calmo, deixando a maior tragédia somente para agosto, como descrevo a seguir.

Dentre os fatos que vou trazer para o blog hoje, esse com certeza será o mais triste. No dia 4 de agosto houve uma imensa explosão no porto de Beirute, capital libanesa, deixando centenas de mortos e milhares de feridos. Segundo as autoridades teria sido armazenada ilegalmente grandes quantidades de nitrato de amônio, assim contribuindo para a gigantesca tragédia que nos lembrou muito sobre a cena do “cogumelo” da bomba em Hiroshima (1945) e a apreensão no atentado contra as torres gêmeas (2001). O país se encontra em um grave colapso econômico e agora precisa se reencontrar sem o seu principal meio comercial, o porto as margens do mediterrâneo oriental, que é por onde costumam chegar a maior parte dos abastecimentos da região. Beirute sempre foi considerada uma cidade mágica, reunindo o que há de melhor e pior do oriente e do ocidente. Já foi destruída durante a guerra civil do Líbano (1975–90), após isso com os bombardeamentos 14 anos atrás na parte sul da cidade, e agora com a explosão na área portuária, desta vez ao norte. Devastou a capital de uma nação que teve uma influência francesa e árabe no século XX. Mas no século XXI o país enfrenta um aperto, já que faz divisas com a Síria que está em guerra civil desde 2011 e com Israel, um Estado que não tem relações com e que ja houveram diversos conflitos. Espero voltar ao blog em breve relatando uma rápida recuperação socioeconômica dos libaneses e a superação de mais um acontecimento na icônica e trágica capital. E se há um lugar no mundo capaz de renascer das cinzas, este lugar é o Líbano.

Impossível falar de Oriente Médio sem mencionar o conflito israelo-árabe, né? Pois! o povo palestino precisou assistir a uma série de países árabes normalizando relações com Israel, que era um país obscuro (pelo menos diplomaticamente) para muitos na região. Primeiro foi assinado o Acordo de Abraão na qual Emirados Árabes Unidos e Bahrein (Que nunca tiveram uma interferência direta pró Palestina) estabeleceram relações diplomáticas com o país hebreu. Porém, é importante frisar que esses três países nunca se envolveram em guerras entre si e nem mesmo em confrontos diplomáticos, além de especular-se que ja tinham relações “por debaixo dos panos” há anos com Israel, sendo assim, este feito não pode ser encarado como um “acordo de paz”, e sim como uma simples normalização das relações diplomáticas, que traduz-se em uma grande jogada de Benjamin Netanyahu, e para Al Khalifa e Bin Zayed, em uma maior relação comercial, incentivos para o turismo de israelenses em seus territórios e principalmente em uma maior abertura para o ocidente, diminuindo a dependência monetária que essas nações têm com o petróleo.

A normalização de relações não parou por aí e algumas semanas depois foi a vez do Marrocos normalizar relações com o país judaico! O secretário norte-americano Mike Pompeo e o presidente Donald Trump propuseram ao país do Magrebe que normalizassem as relações com Israel e em troca os Estados Unidos reconheceriam a soberania marroquina frente a área em disputa do Saara Ocidental. Vale ressaltar que os judeus possuem uma aliança histórica com o Marrocos, por exemplo, uma das pessoas de maior importância da monarquia marroquina é o judeu André Azoulay, braço direito do rei Mohammad VI.

Após esses acordos já são 6 países árabes que possuem relações diplomáticas plenas com Israel. Nomeadamente Egito, Jordânia, Bahrein, Emirados Árabes, Sudão, Marrocos, além da tradicionalíssima Turquia, que mesmo não sendo um país árabe tem uma importância histórica na região e é amiga de Israel, mesmo que o atual governo de Erdogan venha jogando contra.

Já no penúltimo mês do ano tivemos supostamente um polêmico e importantíssimo acordo entre o primeiro ministro de Israel Benjamin Netanyahu e o príncipe herdeiro da Árabia Saudita Mohammed bin Salman na cidade de Neon, território saudita. Segundo a imprensa israelense os dois líderes teriam se encontrado na cidade de Neom, em que o governo árabe tem procurado desenvolver para passar uma maior impressão de abertura ao ocidente e uma maior integração sociocultural (Visto que o regime é uma monarquia absolutista extremamente conservadora). Os dois teriam traçado um futuro estabelecimento de relações diplomáticas e ainda um possível embate frente ao Irã que é inimigo de ambos e teve um cientista nuclear assassinado dias após o encontro, como citarei no próximo parágrafo.

Ainda no mês de novembro a região presenciou o assassinato do principal cientista nuclear iraniano Mohsen Fakhrizadeh-Mahavadi nos arredores da capital Teerã. Segundo a imprensa estatal persa, o ataque teria sido comandado por Israel e fora utilizadas armas que traziam o logotipo e especificações da indústria militar israelense, assim mexendo ainda mais com o xadrez geopolítico e a tensão na região. Há de se esperar uma retaliação por parte do Irã, que ameaça a soberania judaica através do grupo político armado libanês Hezbollah e o movimento islâmico Hamas, na faixa de Gaza.

Nos resta agora aguardar por 2021, que será um ano de suma importância para a região, certamente teremos capítulos envolvendo o próximo presidente americano Joe Biden através de uma possível volta ao acordo nuclear com o Irã e talvez uma aproximação ainda maior entre Arábia Saudita e Israel, cingindo claro a família Salman e o primeiro ministro conservador Benjamin Netanyahu. Espero daqui um ano estar trazendo ao blog o resumo de um ano pacífico e apaziguador no Oriente Médio (mesmo isso não sendo lá muito comum).

 

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